domingo, 5 de maio de 2013

CARDEAL JOHN HENRY NEWMAN

CARDEAL JOHN HENRY NEWMAN


De exímio teólogo a Beato da Igreja Católica

No dia 19 de setembro de 2010, o Papa Bento XVI declarou novo Beato da Igreja: o Cardeal John Henry Newman, nas proximidades de Birmingham, na Inglaterra. Newman, o futuro beato, nascera no dia 21 de fevereiro de 1801; era o mais velho de seis irmãos. Seu pai fora banqueiro inglês e sua mãe, Jemina, era de origem francesa. Seu pai faliu em seus negócios, e nunca se recuperou de suas dívidas, chegando a morrer, em 1824, e seu filho Newman tornou-se responsável pela família.

No ano de 1822, aos 21 anos, foi escolhido como professor na Universidade de Oxford, o centro Anglicanismo. No mesmo ano foi ordenado diácono. Em maio de 1825 foi ordenado sacerdote anglicano, e, em 1828, instituído como vigário da Igreja da Santa Maria Virem, famosa igreja universitária, no centro de Oxford. Ele iniciou o famoso “Movimento de Oxford” com o intuito santo de reformar a Igreja Anglicana.

Ele lutou com denodo para afastas:

1. O relaxamento espiritual;

2. As interferências do Estado nos assuntos da Igreja;

3. O ensino não ortodoxo.

A Busca da Verdade

Para mais descobrir a verdade, Newman se encontrou de corpo e alma ao estudo dos Santos Padres dos primeiros séculos. Após muita pesquisa, reflexão e oração, ele concluiu que a Igreja Anglicana não era aquela instituída por Jesus Cristo, sobre os alicerces dos Apóstolos. A Igreja fundada por Cristo era a Igreja Católica, a quem confiou o depósito da fé. Newman queria pertencer a essa Igreja, e, para abraçar a verdade, estava pronto a tudo sacrificar.

A verdade a qualquer Custo

Para se tornar Católico, estava pronto a qualquer sacrifício. Chegou a sacrificar tudo que lhe era mais caro na Igreja Anglicana, onde era tão estimado e amado. Teve que renunciar e desligar-se da comunidade que lhe era tão familiar. Muitos de seus amigos de afastaram dele, até sua família virou-lhe as costas. Além de tudo, perdeu sua brilhante carreira acadêmica em Oxford e seu rendoso salário como professor. Ora, seu pai tinha entrado em falência, e, portanto coube a ele arrumar uma casa onde pudessem morar sua mãe e seus irmãos, e ainda precisava prover a educação de seu irmão, Frank.

Amor pela Eucaristia

Newman não ficou calculando o que ia perder, mas o que ia ganhar. Ele se sentia tão atraído pela Eucaristia, que estava pronto a tudo abandonar para poder adquirir o grande tesouro que a Igreja possui – a Santa Eucaristia. Diz-se que uns dias antes de se decidir pela conversão, um amigo seu tentou convencê-lo a voltar atrás, de sua decisão já tomada. O amigo lhe disse: “Pense bem o que está a fazer, se ficar católico, vai perder seu polpudo salário anual de quatro mil liras esterlinas”. Ao que Newman prontamente respondeu, “E o que são 4.000 liras esterlinas comparadas com uma comunhão?

Três anos no deserto

Seu empenho decidido de abraçar a verdade levou-me a tomar decisão mais difícil de sua vida. Renunciou a ser Vigário da Igreja Anglicana e retirou-se para uma casa, com um pequeno grupo de amigos, para, na oração, no despojamento e na reflexão, descobrir o que Deus queria dele.

A esses três anos Newman os chamou: “Os três anos no deserto!” Passou-os numa aldeia, chamada “Littlemore”, aguardando e auscultando a voz do Senhor que devia manifestar-lhe a sua vontade.

Após esses três anos de discernimento, Newman ficou sabendo que havia um teólogo italiano, Padre Domenico Barberi, a quem mandou uma carta na qual manifestou seu desejo de encontrá-lo. Na noite de 8 de outubro de 1845, durante uma forte tempestade, o padre passionista italiano, Cocumento Barberi chegou a Littlemore.

Quando Padre Barberi estava perto da lareira, tentando enxugar sua roupa encharcada, Newman entrou no quarto, e se ajoelhou em frente dele e pediu “para ser recebido no verdadeiro rebanho do Salvador”. E também pediu que ouvisse sua confissão pessoal. Essa confissão, começada à noite, se prolongou até a manhã seguinte.

No dia 9 de outubro, à tarde, Newman e dois companheiros seus, fizeram a profissão da fé e receberam o Batismo “sob condição”, visto que naquele tempo não se tinha chegado ao reconhecimento mútuo da validade do Batismo entre as Igrejas Católica e Anglicana. Newman foi à pessoa mais importante, que se tinha convertido para a Igreja Católica, desde a Reforma Protestante até hoje.

A Primeira Comunhão

No dia 10 de outubro de 1845, a mesma mesa na qual Newman tinha escrito o famoso livro Sobre Desenvolvimento da Doutrina Cristã, foi usada para a celebração da missa por Padre Domenico Barberi, assistida por Newman, com grande devoção, e na qual recebeu a primeira comunhão. Mais tarde, o Padre Barberi foi beatificado pelo Papa Paulo VI, e canonizado pelo Papa João Paulo II.

Newman, no ano seguinte, foi a Roma para fazer os estudos para o sacerdócio, no Colégio da Propaganda Fide. Sua primeira missa foi na festa de Corpus Christi, do ano 1847.

Newman, que era um gênio, dotado de uma elevada inteligência, submeteu-se a todo o ensinamento da Igreja Católica. Viveu os cinqüenta anos seguintes inteiramente dedicado ao serviço da Igreja. Suas três qualidades características eram as seguintes: era uma pessoa inteiramente dedicada à verdade, a Deus, e à Igreja. Ele usou sua grande sabedoria para ganhar milhares de pessoas para Cristo. Seus livros se comparam com os livros clássicos dos melhores sábios da Igreja. Era um amigo leal que conversava francamente “coração a coração”; e aproveitava de suas inúmeras cartas para fazer o bem espiritual. De fato, chegou a escrever umas vinte mil cartas de natureza espiritual, em seguida colecionadas em trinta e dois volumes.

No século 19 apareceram os três personagens que convulsionaram aquele século com suas idéias revolucionárias: eram Darwin, Marx e Freud. Os três direcionavam a humanidade rumo ao ateísmo. Newman estava destinado a ser o fermento, para levedar a massa da humanidade, orientando-a para Deus.

Pai do Concilio Vaticano II

A sabedoria e a espiritualidade de Newman não somente tiveram impacto e influência preponderante sobre o século XIX, já durante sua vida; mais fortemente ainda isso aconteceu após sua morte. Muitas idéias suas, prematuras para sua época, foram acolhidas pelo Concílio Vaticano II. Assim, por exemplo, seu livro A Consulta dos Fiéis em assuntos da Doutrina, escrito no ano 1859, era a fonte da qual e sobre a qual foi formulado o Decreto Apostolicam Actuositatem (Sobre o Apostolado dos Leigos).

Uma característica destacada em sua vida era a confiança' em Deus; ele que tinha passado por mares tumultuosos em sua vida. Teve que enfrentar e arrostar incompreensões, críticas, fracassos, desapontamentos e dificuldades de todas as espécies; mas tinha fé inabalável na Divina Providência que tudo dirige Lead kindly light (Dirija-me, doce luz) é uma poesia sua imortal. Sua confiança irrefragável em Deus se exprime em um rascunho seu: "Eu confio sempre n’Ele. Se eu ficar doente, minha doença serve para algum proveito.
Se eu atravessar por preocupações, minhas apreensões servem para algum bem. Deus nada faz senão por algum motivo. Se Ele afastar meus amigos; se Ele me mandar entre pessoas desconhecidas; se Ele me obrigar a sentir-me aflito; se Ele permitir que minha coragem suma; se Ele me esconder o que vai acontecer comigo no futuro, ainda assim Ele sabe o que está fazendo."

Confiança na Igreja de Cristo

Newman já previu que a Igreja ia sofrer muito e ter que enfrentar grandes tempestades; mas ainda assim, acalentava enorme confiança nela: "Até quando a Igreja existir, verá que tudo será contra ela, excetuando Deus".

Ele tinha uma esperança irrefragável. Num sermão ele disse: "A Igreja tem que travar o bom combate; para sobreviver, ela precisa lutar e sofrer. E se a Igreja não sofresse, não seria um sinal auspicioso; mas prova de que estaria dormindo no ponto.

Sua doutrina e seus preceitos não são conforme os gostos do mundo; o mundo não gosta daquilo que não lhe é conforme. E se o mundo não está per¬seguindo a Igreja, a razão será que a Igreja não está anunciando (como deve)" (Parochial Plain Sermons, V 297-298).

No dia 12 de maio de 1879, o Papa Leão XIII escolheu a J. Henry New¬man para se tornar Cardeal. Naquele mesmo dia, ele pronunciou uma palestra memorável, intitulada, "O Discurso do Bilhete", na qual, de novo, condenou as heresias de seu tempo - o liberalismo religioso, o erro daqueles que afir¬mam: "As religiões não são todas iguais?" Newman, como verdadeiro profeta, previu que tal erro devia espalhar-se por todos os lados e, como armadilha, enganar a muitos.

O Cardeal Newman se explicava: "Passei 30,40 e 50 anos de minha vida combatendo com todas as minhas forças o erro daqueles que ensinaram que não existe uma religião que possa arrogar para si o conceito de ser a verdadei¬ra religião."

- Eles dizem: "Qualquer religião é boa, uma é igualmente tão boa quan¬to a outra".

- Eles dizem: "Qualquer um pode escolher a religião que quiser, confor¬me achar melhor, conforme suas preferências. Conforme tais ensinamentos, qualquer um pode freqüentar livremente a igreja de sua escolha, aproveitar espiritualmente de qualquer religião, sem ser membro de qualquer uma das religiões". Newman enfatizava: "Essa doutrina é errada por que: 1) sim, exis¬te uma religião que é verdadeira, porque revelada pelo próprio Deus;

- 2) essa religião verdadeira é uma só;

- 3) A verdade (integral) se encontra numa só; na Igreja Santa, Apostólica, Romana."
Homem de profunda espiritualidade

Newman admitia que não conseguia superar as ondas contrárias da vida, se não tivesse o costume de orar na Presença Real de Cristo na Eucaris¬tia. Ele ficou muito renomado pela beleza de orações por ele compostas. Entre elas: "Irradiando o Amor de Deus": "Caríssimo Jesus, ajuda-me a difundir ao meu redor tua fragrância por onde eu vá." Uma bela oração que Madre Tere¬sa de Calcutá recitava diariamente. Eis aqui uma parte dela, numa tradução livre: "Ó Jesus, ajuda-me a difundir o teu perfume por onde estou; enche a minha alma com o teu espírito e tua vida. Vem dentro de mim e toma posse de mim, de tal modo que toda minha vida não seja mais do que reflexo e ful-gor de tua vida. Brilha em minha vida e nela fica de tal modo que cada pessoa com que eu tiver contato possa sentir e enxergar tua presença em mim; que as pessoas vejam, e não enxerguem mais a mim, senão a Ti, Jesus. Faze que eu chegue a pregar tua doutrina, não com palavras, mas com o meu exemplo, como um imã, atraindo com meu agir, sinal do grande amor que nutro por Ti em meu coração. Amém!"
Algumas apreciações

O Papa João Paulo II, numa carta enviada ao Arcebispo Vincent Nichols, no dia 22 de janeiro de 2001, escreveu: "John Henry Newman per¬tence a todas as épocas, e a todos os países e povos!" O cardeal americano Avery Dulles afirma: "John Henry Newman é o maior teólogo do século dezenove, o qual chegou a influenciar, decididamente, os desenvolvimen¬tos futuros".

O diário londrinense Times, no dia de seu falecimento, dia 11 de agosto de 1890, relatou: "De uma coisa podemos ter certeza. A lembrança dessa vida oura e nobre, que permaneceu sem mancha das coisas mundanas, ficará viva na memória dos tempos vindouros. Seja se Roma chegue a canonizá-lo, seja não, ele já está canonizado na convicção das pessoas de bem de todas as deno¬minações na Inglaterra. A memória de sua santidade ficará viva pelos séculos vindouros".

O autor Jan Kerr, que escreveu o livro John Henry Newman; uma biblio¬grafia, num artigo publicado no Osservatore Romano, de 22 de julho de 2009, disse: "Newman é o pai do Concilio Vaticano II; se for canonizado, certamen¬te será declarado Doutor da Igreja; e se isso acontecer, estou convicto de que será considerado Doutor da Igreja pós-Conciliar".

Vamos aguardar, e veremos o que virá a acontecer. Seja como for, nos¬sos dias são de festa e alegria. O Cardeal Newman precisa ser lido e imitado em sua fidelidade à Igreja

Nenhum comentário: