quinta-feira, 16 de maio de 2013

Ahmer Khokhar - Do Islã ao Catolicismo

Ahmer Khokhar - Do Islã ao Catolicismo


Os acontecimentos de 11 de setembro e a crueldade atroz em Bali chocaram o mundo, ao mesmo tempo que a guerra contra o terrorismo pelos Estados Unidos está continuando. De minha parte faz tempo que vivo "minha guerra", desde que tinha catorze anos, quando me converti do islamismo para abraçar o catolicismo.
Eu era o primeiro filho de imigrantes paquistaneses na Inglaterra. Tive uma criação islâmica rigorosa; porém, de criança era muito bajulado com tantos presentes e jogos infantis que ganhava. Cada fim de semana, meu pai me enviava para a mesquita local para receber a instrução religiosa, até me tornar jovem. Lembro-me das vezes em que fomos castigados fisicamente, quando ficávamos irrequietos. Nós chamávamos nossos professores e o próprio "Imã", de "tio".
No Islã, uma criança nasce muçulmana se os progenitores são muçulmanos. Há dois aspectos de meus genitores que nunca esqueci. Primeiro, eles têm uma certeza sólida de que o Islã é a única estrada que leva a Deus, e que o Alcorão, indiscutivelmente, é o livro de Deus. O segundo, eles têm certo respeito pelos cristãos, porque no Paquistão há uma minoria católica respeitável. Apesar de minha conversão ao cristianismo, jamais perdi meu respeito pelos muitos valores e ensinamentos islâmicos. Eu guardo também muito da cultura paquistanesa de meus progenitores, a língua e as tradições.
Filme que mudou minha vida

No ano de 1988, no tempo da Páscoa, quando tinha catorze anos, assisti ao filme Nazaré, com o ator Roberto Powell. O filme mudou a minha vida porque pela primeira vez, brotaram dúvidas acerca do Islã.Eu cheguei a pensar que os profetas do Antigo Testamento eram de fato judeus e não muçulmanos. Eu cheguei a rejeitar o ensinamento do Alcorão que diz que Jesus não tinha morrido na cruz e que sua alma tinha sido elevada ao céu, e assim não tinha sofrido por nós.

Fiquei com a percepção de que o Islã estava seguindo um número de regras que proibiam que chamasse a Deus de PAI, ou que rezasse para Ele de modo espontâneo. Eu rezava cinco vezes ao dia, inclinando-me profundamente na direção de Meca, recitando passagens do Alcorão. Durante vários anos eu era mais devoto do que meus pais.

Quando, pela primeira vez, li vários trechos da Bíblia, após ter assistido ao tal filme, concluí que não podia chegar a Deus unicamente com minhas próprias forças, por causa dos meus pecados. Estava tão apavorado, que cheguei ao ponto de rasgar em pedaços minha pequena Bíblia, porque sabia que se tivesse que me converter ao cristianismo, teria que romper as relações com minha família, com os vizinhos e com minha comunidade.

Tentei ignorar minhas convicções acerca de Jesus, mas tudo era debalde. Finalmente abri meu coração a um dos meus mestres da escola, um cristão, que proferiu umas orações sobre mim e, daquele momento em diante, me tornei um cristão.

A partir daquele dia, perdi minha identidade anterior, e meus relacionamentos com os pais mudaram para sempre. Sentia-me rejeitado pela comunidade paquistanesa na Inglaterra porque, do seu ponto de vista, eu tinha traído sua religião e cultura; como também, atualmente, não me sinto à vontade na Igreja, porque certos cristãos não compreendem o Islã e as conseqüências advieram sobre mim desde a minha conversão.

O período de maior aflição

O verão de 1995 (de junho a setembro) foi para mim o período de maior atribulação como cristão. Após meu batismo, retornei da universidade à minha casa, para as férias de verão. Este foi um passo imenso, porque era uma profissão pública de minha fé em Jesus Cristo, a quem prometi dedicar a minha vida. Infelizmente, durante aquele período, e durante todo o tempo de que tenho memória, minha irmã, de apenas dezessete anos, virou-se contra mim; ela confiscava minhas cartas, que recebia de meus amigos cristãos, que me davam apoio e orações, visto que eu não podia freqüentar a igreja e encontrar-me com outros cristãos até o começo de outro ano acadêmico, no outono.

Era para mim uma experiência horrível, ter que estar passivo na presença do pai, enquanto ele esbravejava duramente contra o cristianismo, após ter encontrado e lido algumas de minhas cartas pessoais. Meu pai estava tão bravo, que chegou a ir ao encontro de alguns dos meus amigos, na escola, para descobrir como aconteceu meu envolvimento no cristianismo, que ele descrevia como um simples "culto".

Muitos muçulmanos paquistaneses têm pouco conhecimento do cristianismo, que eles consideram como uma religião do homem branco, do ocidente, que tem valores morais baixos e que se entrega à bebida. Ao mesmo tempo em que acham difícil admitir seus próprios erros, eles têm facilidade para condenar os outros.

Penso que muitos cristãos, no clima cultural prevalecente, olham para o Islã como uma religião de extremistas fanáticos, cometendo com normalidade atos de terrorismo. Há grande falta de informação acerca da doutrina e valores de ambas as partes.
Não podia rejeitar o chamado de Jesus

Meu pai dirigiu-me muitas ameaças verbais, e minha mãe chorava e ia se deitar porque não agüentava pensar em ter um filho querido, como cristão. Meus progenitores estavam convictos de que eu os tinha rejeitado, a eles, seus valores, sua cultura e sua religião.

A situação se resolveu de uma vez para sempre, quando eu saí de casa definitivamente, após minha graduação. Aparentemente não há agora nenhum mal-estar entre nós, mas haverá problemas enormes quando tiver que informá-los de que eu tenho em mente casar com uma moça cristã, na igreja, e rejeitar o Islã.

Meus pais continuavam se enganando de que eu ainda era muçulmano. Eles se recusavam a reconhecer minha conversão ao cristianismo. Este assunto jamais se propõe para discussão entre nós, e jamais levo comigo a Bíblia ao visitar minha família. Ninguém dos vizinhos sabe de minhas convicções cristãs e, se tivessem que descobrir e comunicar aos meus pais, eles não permitiriam minha volta ao seio da família.

Minha irmã e eu, agora, estamos bastante próximos, e ela aceita minha fé cristã. Eu consegui manter um bom relacionamento com meus pais. Contudo eles não podem aceitar o cristianismo, e quando cheguei a refutar seus planos quanto ao meu casamento, no próximo ano, eles simplesmente me rejeitaram. Eu não me arrependo de ter trocado de religião, porque me era impossível rejeitar o chamado de Jesus.
Após o acontecimento de 11 de setembro

Os progenitores e os vizinhos da mesma geração apoiam a Al-Qae-da. Eles consideram o conflito atual como uma luta entre o Islã e a tirania dos cristãos e dos judeus no mundo ocidental. Sua raiva geralmente é contra a presença dos soldados americanos no Oriente Médio e a ameaça dos americanos de atacar seus irmãos muçulmanos no Iraque.

Meu pai sempre tem acreditado que, se a Palestina tivesse que ocupar a terra de Israel, ou os soldados americanos que abandonar o Oriente Médio e afastar as sanções contra o Iraque, a Al-Qaeda e seus "Mártires" (como são chamados), perderiam seu apoio global. Eles sustentam que noventa por cento do terrorismo no mundo islâmico acabaria, e que nisso muitos muçulmanos pelo mundo afora, estariam de acordo com ele.

Os Estados Unidos e Israel seriam os maiores inimigos. É muito difícil para a primeira e a segunda geração das famílias de imigrantes partilhar de todas as convicções e atitudes de seus pais. Eu falo inglês como também o hindu (língua do Paquistão), assisto a filmes americanos, me visto com roupas de estilo moderno e aprecio a música ocidental.

Num país islâmico ter-me-iam matado

Desde 11 de setembro, muitos muçulmanos aumentaram sua raiva contra o cristianismo, quando viam os assim chamados "países cristãos", como a Inglaterra e a Austrália associarem-se aos Estados Unidos e apoiarem Israel. Meus amigos muçulmanos até me aceitam, mas, se estivesse morando num país islâmico, eles me teriam matado por ter-me convertido ao cristianismo.

É minha esperança que o mundo chegue a se converter: a única ma¬neira para resolvermos os conflitos mundiais seria o diálogo entre os povos e a compreensão de suas respectivas crenças religiosas, no lugar das guerras e violências.



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