segunda-feira, 12 de setembro de 2011

11ª Romaria da Terra e das Águas – Manifesto final





A 11ª Romaria de Terra, Água e Direitos do Maranhão mostrou mais uma vez uma variedade de situações de agressão, de sofrimento e de destruição pelos quais passam o ambiente e a população neste Estado. A realidade que nós, romeiras e romeiros constatamos em Piquiá, nos fez lembrar outras situações vividas e contrárias ao Projeto que reconhecemos como divino, como bíblico-evangélico: uma terra onde corre leite e mel sem faltar (Ex 3, 8) e que traz vida em abundância (Jo 10, 10.).






Em Piquiá, podemos ver com os nossos próprios olhos a poluição do ar causada por empresas siderúrgicas, as enormes áreas plantadas com eucaliptos, a exploração do trabalho de operários descartáveis quando a empresa os considere supérfluos e a expulsão forçada de moradores antigos e atingidos pela poluição. Nos lembramos de situações parecidas em que grandes criadores e gado baniram famílias camponesas, onde a plantação de cana, soja e algodão expropriam quilombolas e lavradores de suas plantações, ou das madeireiras que acabam com as matas das quais vivem as populações mais antigas deste Estado: os indígenas em sua multiplicidade de culturas e famílias. A maior riqueza de uma nação é a sua população, e esta riqueza é para ser preservada e valorizada, nunca explorada.





Todas estas situações são resultado de um grande projeto elaborado e implantado com a anuência e sob a coordenação de um poder estatal que se impõe à população à qual deveria servir. Com mentiras, falsas promessas e ilusões mirabolantes, os donos do poder político e econômico defendem um sistema que apenas serve para acumular riquezas nas mãos de poucos enquanto a massa continua empobrecendo: os ricos ficando mais ricos a custo dos pobres cada vez mais miseráveis (João Paulo II – Puebla 1979).
Este sistema, que não serve à população, deve ser desmontado, deve ser destruído (Apoc. 11,18c) e substituído por outro com valores que defendemos por serem evangélicos: equidade, partilha, fraternidade, respeito à Criação.




Conhecemos alternativas. Sabemos que é possível reconstruir a nossa sociedade em outras bases. É possível produzir alimentos sem uso de venenos. Projetos industriais, imprescindíveis para o bem estar das pessoas, devem respeitar dimensões suportáveis pelo ambiente natural e humano em que forem inseridos. Novos padrões de consumo se impõem, se quisermos garantir para as futuras gerações um planeta e um Maranhão habitável e fonte de felicidade. Riqueza não é sinônimo de felicidade, como vida simples e feliz se contrapõe às situações de miséria em que vive a maioria da população maranhense.



O desenvolvimento econômico não pode prescindir-se do desenvolvimento humano, antes é um meio para que este fim possa ser atingido.
O sonho de uma vida feliz, humanamente digna e respeitadora do ambiente é possível, se a gente quiser. É possível porque Deus é o nosso parceiro nesse projeto que também é dele. Para isso, é necessário todos os atingidos pelo modelo de exploração dominante, indígenas de todas as tribos e culturas, quilombolas e comunidades negras, trabalhadores rurais e operários da cidade, moradores de periferias e favelas, se organizarem e se juntarem em torno de bandeiras comuns. A busca do Reino que Jesus veio anunciar requer não nos curvar diante da imposição do sistema que domina nossas vidas, mas resistir, nos manifestar, apoiar as lutas que irmãos e irmãs enfrentam e sermos capazes de construir um projeto novo. E, sobretudo, nunca perder a fé e a esperança na promessa: o Reino de Deus e sua Justiça são nossa herança.
Um novo céu e uma nova terra estão a nosso alcance, porque “milagres maiores” seremos capazes de realizar.


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