terça-feira, 28 de maio de 2013

Jean-Claude Guillebaud

Jean-Claude Guillebaud

Nasceu na Algéria em 1944; ele é um dos jornalistas franceses mais famosos e escrevia regularmente no Le Nouvel Observateur, no La Vie e durante muitos anos colaborava no jornal laico Le Monde. Hoje ele é diretor das Éditions du Sevil de Paris. É autor de muitos livros, traduzidos em diversas línguas.

Perda da fé

 
Há dois anos, Jean-Claude Guillebaud publicou seu livro mais recente: Le commencement d'um monde. Vers une modernitè metisse (Sevil, 2008), que em sua tradução italiana foi publicado com o título: Como sono ridiventato Cristiano (Como fiquei cristão de novo).

Ele assim escreveu acerca de sua conversão: Nasci no ano de 1944 em uma família católica, apesar de meu pai jamais freqüentar a igreja. Fui batizado, fiz a minha Primeira Comunhão e fui crismado pelo Bispo. Porém, quando completei 18 anos, aos poucos fui me afastando da Igreja e da fé. A religião não me interessava mais e não mais freqüentava a Igreja; tornei-me completamente indiferente perante a religião, de modo especial, a cristã.

Correspondente de guerra

Após estudar Direito e Ciências Políticas, tornei-me jornalista e correspondente de guerra com o jornal Le Monde, e assim acompanhei os acontecimentos bélicos na África, na Ásia e no Oriente Médio.

A cada dois anos publicava um livro, nos quais estudava a sociedade sob as luzes das ciências humanas, com os problemas e ameaças do mundo moderno.

Freqüentemente me perguntava: quais seriam os valores fundamentais que a qualquer custo precisamos defender? Em 1999 publiquei um livro intitulado Le refondation du monde, obra que me custou quatro anos de trabalho. Com o tempo descobri que a Bíblia é a fonte dos valores modernos, tais como a liberdade, a igualdade, a fé no progresso, o universalismo etc. Percebi que tais valores não os encontramos nas grandes civilizações, como a chinesa, indiana ou na pré-colombiana, e nem no Islã, mas somente na Bíblia, de modo especial no Evangelho.

 
Como Editor

Na minha profissão editorial, após ter abandonado o jornalismo, estive em contato com diversos intelectuais, entre eles alguns homens de fé, muitos deles sendo bem abertos e sensíveis perante os problemas espirituais. Entre eles havia Jean-Marie Domenasch, Renè Girard, Cornelius Castoriadis, Michel Serres, Maurice Bellet e Michel Henry, um cristão declarado, e Jacques Ellul. Todos eles tiveram participação na minha caminhada de volta para a fé cristã.

 
Nem mística, nem sentimentos, só a razão

Posso afirmar que meu retorno à fé de minha infância aconteceu não por causa de alguma experiência mística, espiritual ou sentimental, mas apenas na força da racionalidade e do estudo. Foram esses que me conduziram, até. Entender a grandeza intelectual que há no Evangelho (na mensagem), que deslumbra seja os crentes, seja os não crentes.

É verdade que enfrentando o barbarismo hodierno, o cristianismo dá a impressão de ser como uma contracultura, e é por isso que hoje há muitos que o combatem e gostariam que desaparecesse. Entretanto esses tais esquecem o grande poder que o cristianismo teve durante os séculos, desde seus inícios, quando os cristãos tinham que combater o infanticídio, as lutas armadas entre os gladiadores, a idolatria para com seus imperadores etc.

O Cristianismo pode ainda contribuir

Sou convicto que os que pensam que o cristianismo não tem nada o que contribuir para a sociedade européia de hoje, estão enganados. Apesar de ser verdade que o cristianismo não é mais uma cultura dominante, ao menos na Europa, ele está sempre presente e pode reagir e se tornar a base da modernidade.

Após o colapso do comunismo, com a opressão e injustiça que acarretou, hoje caímos de novo numa situação mundial sem alma; mundo que, apesar de tantas promessas lisonjeadoras para o futuro, está arrastando consigo numerosas ameaças e dificuldades novas para nossa vivência universal. Pressinto que o cristianismo e os cristãos podem ainda contribuir com uma nova esperança ao mundo de hoje.

Concordo com que afirmou o sacerdote ortodoxo-russo, Alexandre Men - , que há poucos anos foi assassinado por dirigentes do Estado, que "a história do cristianismo ainda está para começar". Não é por nada que esse sacerdote tinha um papel importante na recristianização da Rússia moderna.

 
O laboratório interessante da Fé

Sinto convictamente que o cristianismo poderá se tornar como que um laboratório interessante para harmonizar uma simbiose entre a religião e a fé, e a laicidade e a razão. O fato de sermos cristãos não nos condena a trancarmos num arquivo nossa inteligência, e nem a ingressarmos numa vivência clericalista. Eu escrevi um livro volumoso, intitulado: Le commencement d'um monde. Vers une modernitè metisse, no qual expliquei que o cristianismo tem um lugar como testemunha a uma proposta nova entre as culturas.

Estou plenamente convicto que quando o antropólogo americano Clifford Greetz (falecido em 2005), um pouco antes da sua morte, afirmou que "a Religião é o assunto do futuro", ele tinha plena razão.

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