sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CARTA ABERTA DA DIOCESE DE PINHEIRO, MARANHÃO, ÀS AUTORIDADES FEDERAIS, ESTADUAIS, MUNICIPAIS E A TODOS (AS) OS HOMENS E MULHERES DE BOA VONTADE

“Vai, reúne os anciãos de Israel e dize-lhes: Javé, o Deus de nossos pais viu o seu sofrimento e nos levará à terra prometida” (Ex 3,16-18).

“Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e Jesus Cristo nosso Senhor” (1Tm 1, 2).


“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias [...], sobretudo, dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” (GS, n. 1) da nossa Diocese de Pinheiro que através desta CARTA ABERTA manifesta sua preocupação pelo aumento da violência ligada aos problemas da terra. Agressões estas à dignidade das pessoas, em especial “contra os mais desfavorecidos”.

“A estrutura fundiária do Maranhão, segundo o Censo Agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – registrou 287.037 estabelecimentos em uma área de 12.991.448 hectares. Deste total, 4.519.305 hectares, ou seja, 34,79 % da área são ocupados por 262.089 estabelecimentos da agricultura familiar, isto é, 91,31%, enquanto que 8.472.143 hectares, equivalendo a 65,21% da área são ocupados por 24.948 estabelecimentos não familiares (agronegócio, latifúndios), o que compreende apenas 8,69 %”. Essa altíssima concentração de terra, aliada ao agronegócio e aos grandes projetos são responsáveis pelo alto número de conflitos envolvendo camponeses e camponesas quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco, ribeirinhos em todo o estado do Maranhão. [...] Em 2010, a Comissão Pastoral da Terra registrou 199 conflitos: ordem de despejos e expulsões, vítimas de trabalho escravo, ameaças de morte, 04 assassinatos” (Carta conclusiva da Assembléia Regional de Pastoral do Maranhão realizada na Diocese de Caxias nos dias 11 a 15 de julho de 2011).

A pastoral da Igreja não pode ser feita longe ou fora do contexto histórico onde vivem seus membros (Dap, n. 367) e a opção preferencial da Igreja [das pastorais] é a mesma do Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida... e a tenham em plenitude” (Jo 10, 10). Os últimos acontecimentos revelam que os ídolos do poder, da riqueza e do prazer se transformaram, acima do valor da pessoa humana (Dap, n. 387). Nosso povo não quer “andar pelas sombras da morte. Têm sede de vida e felicidade em Cristo (Dap, n. 350).
Somos filhos do mesmo Pai e a vinha não é nossa. Deus-Pai pediu que cuidássemos dela - “Que fará, pois, o Senhor da vinha?” (Mc 12, 1-9). Não podemos explorar o planeta, ameaçar as pessoas, escravizá-las, matá-las, em nome de um “egoístico progresso”. A paciência de Deus terminará. Ele, o dono da vinha, nos chamará para prestar contas da administração da vinha.
Pensemos um pouco: o nosso país concentra o maio número de cristãos, no entanto, alguns têm atitudes que se distanciam das do Mestre Jesus que nos previne sobre a obsessão por acumular: “Não amontoem tesouros nesta terra” (Mt 6,19). “De que serve ao homem ganhar o mundo, mas perder a própria vida?” (Mt 16,26).
Preocupa-nos “a influência de uma cultura freqüentemente contrária à visão cristã, que pretende refutar toda presença e contribuição da Igreja na vida pública [...], pressionando-a a se retirar nos templos e serviços “religiosos” (Dap, n. 391), alegando não ser este o papel da Igreja – “A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra angular (Sl 118, 22-23)”.

Diante deste contexto, a Diocese de Pinheiro vem reafirmar sua solidariedade aos nossos padres diocesanos Clemir Baptista e Inaldo Cerejo, como a todos os ameaçados por clamarem por terra e justiça. Através deles “a Igreja está próxima aos homens do campo que, com amor generoso, trabalham duramente a terra para tirar, à vezes em condições extremamente difíceis, o sustento para suas famílias e levar os frutos da terra a todos” (Dap, n. 472). Apoiamos todas as iniciativas da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que, em nome da Igreja Diocesana e Regional, defendem os direitos de quem não tem voz e vez, assim como a justiça por vias legais.

Fazemos nossas as palavras de Dom Pedro Casaldáliga: “Aos "católicos" latifundiários que escravizam o povo de nossa região - eles mesmos alienados, muitas vezes pela conivência interessada ou cômoda de certos elementos eclesiásticos - pediríamos, se nos quisessem ouvir, um simples pronunciamento entre sua Fé e o seu egoísmo. "Não se pode servir a dois Senhores" (Mt 6, 24). Não lhe adiantará [...] patrocinar o "Natal do pobre" e entregar esmolas para as "Missões", se fecham os olhos e o coração para os peões escravizados ou mortos nas suas fazendas e para a famílias de posseiros que os seus latifundiários deslocam num êxodo eterno ou cercam sadicamente fora da terra necessária para viver” (Dom Pedro Casaldáliga, São Félix do Araguaia, Carta Pastoral, 10 de outubro de 1971).

Externamos assim nossa preocupação pela vida presente e futura, sobretudo do nosso povo mais sofrido e ameaçado – “Tudo quanto vocês fizeram a um destes meus irmãos menores, o fizeram a mim” (Mt 25, 40) -, esperando que do esforço e da boa vontade de todos possam surgir posições e atitudes que levem o nosso povo a vivenciar o clamor do Cristo por vida para todos que gera uma terra sem males.

Pinheiro, 25 de outubro de 2011

DOM RICARDO PEDRO PAGLIA - BISPO DIOCESANO DE PINHEIRO – MA

PE. BENEDITO ESTRELLA - COORDENADOR DE PASTORAL

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