domingo, 5 de setembro de 2010

Pobre Açailândia Rica: quem quiser que Veja!

Mais de 18 mil reais é a renda per capita de nossa cidade. Estamos entre as 23 cidades médias do Brasil que uma famosa revista nacional destacou como campeãs de crescimento econômico.
Senhores e senhoras, venham a Açailândia, profundo interior do Maranhão! O futuro, dizem, passa por aqui.


É verdade, temos um histórico “predatório”, de “desmatamento e contrabando, cinza e poeirão”, como lembra a revista.
Mas as empresas siderúrgicas, ressalta a reportagem, trouxeram desenvolvimento e riqueza.
Se isso é verdade ou não, tudo vai depender do ponto de vista. Para todo artigo que recomenda, há sempre alguém que encomenda: o lucro, sabe-se bem, vem através da propaganda.


Vamos pelo menos tentar mostrar outros lados da mesma cidade: nesse Maranhão de migrantes, trabalho instável e mutação contínua, dominado por uma das oligarquias mais longevas do país, não queremos que ninguém se surpreenda chegando e encontrando algo distinto daquilo que foi dito...


É com orgulho que falamos de nossa cidade e de suas lutas para afirmar a justiça, defender a vida, proteger o meio ambiente.
Há em nossa cidade sonhadores e construtores de paz. Mas a economia e os governantes locais, em sua grande maioria, ainda não estão entre eles.


É só olhar aquilo que está acontecendo nessas semanas: o sindicato dos metalúrgicos levantando o protesto contra demissões de massa (centenas de pessoas cortadas do emprego siderúrgico e da cadeia de produção de carvão).
A ONG Justiça Global pesquisando a respeito das consequências dos empreendimentos industriais sem filtros, sobre a saúde das comunidades.
A Federação Internacional dos Direitos Humanos visitando Açailândia para verificar “o potencial impacto contra os direitos humanos causados pela mineração no estado do Maranhão”.
A Defensoria Pública que finalmente se instala na cidade, recebendo desde o primeiro dia denúncias a respeito de elevados índices de mortalidade infantil, desrespeito aos doentes na fila dia e noite para um crachá de consulta, condições de moradia precárias e perigosas.
O bem público da água sendo privatizado, através de uma companhia ‘nepotizada’ pelo prefeito e que lucra injustamente em cima dos pobres.
O esgoto dos ricos e dos pobres correndo e se misturando pelas ruas da cidade, a céu aberto.


Essa também é uma face de Açailândia. “Centro urbano com elevada desigualdade e pobreza”, pelas categorias do Ministério das Cidades (2009). Não é justo, por interesse de poucos, esconder parte da verdade.
A pergunta que ressoa há décadas na boca do povo é sempre a mesma: “Progresso para quê e para quem?”


Dia 14 de setembro em Açailândia uma importante audiência pública começará a buscar respostas, tratando do deslocamento do povoado de Piquiá e Baixo, do direito das pessoas viverem longe da poluição, do dever das empresas garantirem trabalho, saúde, dignidade.
No mesmo dia os movimentos sociais estarão também na Assembléia Legislativa do Maranhão, clamando por direitos trabalhistas, defesa dos demitidos e desempregados, garantias de longo prazo para quem “se ficha” na cadeia minero-siderúrgica.


Essa é a Açailândia em que acreditamos.
Desenvolvimento e empreendimentos? Sim, mas com respeito ao povo e ao meio ambiente!
Crescimento e progresso? Sim, mas de todos e para todos, com acesso a saúde, educação e moradia dignas de uma cidade que queira ser destaque nacional!


Paróquia São João Batista - Açailândia

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