Se puder, comente alguma coisa sobre o Papa Pio XII e as calúnias de que foi vítima. O próprio John Cornwell, autor de “O Papa de Hitler”, retratou-se, e sobre isso a mídia fica caladinha... (J. Hipólito de Faria – Belo Horizonte/MG)
Pois é. A mídia sensacionalista não faz nenhuma questão de ser conhecida pela seriedade e integridade na transmissão de informações. O que importa é “ver o circo pegar fogo”, pois é isso que vende... E falar mal da Igreja e da fé parece ser um tema especialmente interessante para esta sociedade que no fundo procura – em vão – silenciar a própria consciência.
No caso de Pio XII – a quem coube a difícil missão de chefiar a Igreja durante a Segunda Guerra Mundial – a difamação começou com o lançamento, em 1963, da peça teatral Der Stellvertreter (O Representante) do alemão Rolf Hochhut, que apresentava o Papa como favorável ao nazismo e indiferente ao holocausto dos judeus.
Apenas uma obra de ficção, como o “Código da Vinci” de Dan Brown. Mas foi o que bastou para manchar, aos olhos de muitos, a memória de Pio XII, embora já se tivessem passado 5 anos desde seu falecimento e 18 desde o fim da guerra, e até então ninguém tivesse levantado nenhuma acusação contra ele.
Ao contrário, sabe-se que a comunidade judaica sempre manifestou imensa gratidão para com Pio XII, exatamente pelo muito que ele fez em favor dos judeus durante a guerra. Porque o fato é que ninguém os ajudou mais do que Pio XII, que, segundo pesquisas realizadas em arquivos judaicos pelo professor e cônsul judeu Pinchas Lapide, salvou da morte cerca de 800.000 judeus em toda a Europa. Em Roma, 9/10 da população judaica foi salva, escondida no Vaticano, em Castel Gandolfo, em Igrejas e conventos diversos. Pio XII aboliu temporariamente a regra da clausura nos conventos femininos, para que pudessem abrigar famílias judaicas. As religiosas cediam seus próprios aposentos, apesar do grave risco que corriam todos aqueles que escondiam judeus. O Papa distribuiu ajudas em dinheiro, ajudou a conseguir documentos e passaportes falsos e usou sua influência para obter a aceitação de imigrantes judeus em vários países, inclusive o Brasil.
Os difamadores o acusam de ter “silenciado”, de não ter denunciado com mais ênfase as barbaridades do nazismo. Na verdade, desde antes da guerra, quando ainda se chamava Cardeal Eugênio Pacelli, ele, que tinha sido Núncio Apostólico em Berlim, já alertava a Igreja e a Alemanha contra Hitler e contra os perigos do nacional-socialismo, do qual jamais foi simpatizante, nem aliado, ao contrário do que foi insinuado. Sua primeira encíclica, publicada um mês após o início da guerra, já protestava contra a violência e o ódio que faziam esquecer a lei da solidariedade humana, e revelava sua profunda dor pelo que já estava acontecendo e ainda iria acontecer. A leitura dessa encíclica foi proibida na Alemanha.
Em outras oportunidades ainda o Papa ergueu a voz em favor da paz e em defesa dos judeus. Não somente ele falava, como também, segundo editoriais do jornal New York Times em 1941 e 42, era “a única voz que clama no silêncio e nas trevas que envolvem a Europa” (e justamente o único que falava foi acusado de calar-se!). Mas logo ficou evidente que essa atitude não ajudava os judeus, ao contrário, provocava um aumento de crueldade contra eles, como também contra os padres, religiosos e leigos católicos dos países ocupados. Por isso, Pio XII optou por mudar de tática, passando a agir discretamente, por perceber que dessa forma sua ajuda seria mais eficaz, como de fato foi. E os judeus o souberam reconhecer muito bem.
Já em 29/11/1944, pouco após a entrada dos americanos em Roma, um grupo de israelitas entrou no Vaticano para agradecer ao Papa por sua atitude. Em 9/2/48, quarenta delegados do United Jewish Appeal foram recebidos pelo S. Padre, ao qual levaram seu testemunho de gratidão. Em 26/5/1955, uma orquestra filarmônica israelense, composta de 95 judeus de 14 países diferentes, tocou para Pio XII.
Logo depois da guerra, o grande físico judeu Albert Einstein declarou: “A Igreja Católica foi a única a protestar contra os atentados de Hitler à liberdade. Até então eu não tinha interesse pela Igreja, mas hoje experimento grande admiração por ela, visto que somente a Igreja teve a coragem de se levantar em favor da verdade espiritual e da liberdade moral”. Golda Meir, co-fundadora do Estado de Israel, em 9/10/1958 proclamou perante o mundo inteiro a sua gratidão àquele que “havia levantado a voz em favor do povo judeu”. O Primeiro Ministro de Israel, Moshe Sharett, disse a Pio XII que seu “primeiro dever era agradecer a ele e à Igreja Católica por tudo o que fizeram para socorrer judeus”. Muitos testemunhos como esses foram recolhidos no livro “O Holocausto, Pio XII e os Aliados”, do Prof. Joaquim Blessmann (EDIPUCRS, Porto Alegre, 2003). Outros livros semelhantes foram publicados nos Estados Unidos e na Europa, além de vários artigos em jornais e revistas, com farta documentação.
Os judeus ficaram tão impressionados com a atitude do Papa e da Igreja durante a guerra, que muitos deles se converteram ao cristianismo na época, inclusive o Grão-Rabino de Roma, Israel Zolli, que se fez batizar com o nome de Eugênio, em homenagem a Pio XII.
Apesar disso, Pio XII voltou a ser acusado em 1999, não apenas de covardia, mas de colaboração direta com Hitler, pelo inglês John Cornwell, no livro “O Papa de Hitler – A História Secreta de Pio XII”. Desta vez, a calúnia veio em forma de documentário pretensamente sério e fidedigno, com base em pesquisas nos arquivos do Vaticano. A falsidade dessas acusações foi logo constatada e publicamente atestada por vários estudiosos, mas muita gente preferiu continuar acreditando nas mentiras, talvez porque a defesa da verdade não recebe da mídia a mesma atenção...
O próprio John Cornwell retratou-se, retirando as acusações que havia levantado contra Pio XII, como refere em 10/02/2005 um periódico francês, fazendo referência a artigo publicado em “The Economist”. É verdade que ele tentou desculpar seu erro, dizendo ter-se enganado, e o artigo francês dedica-se então a provar que tal “engano” não se justifica, e que tudo leva a crer que John Cornwell agiu mesmo com preconcebida má-fé em suas “pesquisas”.
Seja como for, no início de 2005 as acusações já haviam sido retiradas pelo próprio autor do livro, e apesar disso, em maio de 2007, a revista “Superinteressante” ainda as repetia como notícias verídicas...
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