segunda-feira, 23 de março de 2009

A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA

Por Luis Hernandes Matos Leite (*)


Diz a sagrada escritura que “o fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança.” (Isaías 32,17) Assim, a partir dessa verdade bíblica a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, na quaresma de 2009, a 46ª Campanha da Fraternidade. Esta tem por tema “Fraternidade e Segurança Pública”, e leva o lema “A paz é fruto da justiça”.
A Campanha da Fraternidade vem orientar as práticas quaresmais de oração, jejum e esmola para os fiéis brasileiros. Todos os anos a CNBB apresenta uma proposta a ser trabalhada promovendo uma ação católica.
Neste ano, os bispos decidiram abordar a questão da segurança pública, que já se apresenta como um problema a ser resolvido. O objetivo geral é suscitar o debate sobre a segurança pública, e favorecer a promoção de uma cultura de paz nas pessoas para que todos sejam impelidos a construir a justiça social que seja garantia de segurança para todos.
Muitas são as reclamações sobre assaltos, sequestros e afins. Contudo, não há um questionamento mais abrangente sobre as causas da insegurança. Logo, a Igreja no Brasil viu a necessidade de promover um diálogo que capacite o povo a reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social, bem como a denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia, gestões públicas, e as injustiças presentes nos institutos de prisão especial, do foro privilegiado para políticos, e da imunidade parlamentar contra crimes comuns.
Do mesmo modo, querem-se fortalecer as ações educativas e evangelizadoras, para que rompam com a visão do “olho por olho”, “dente por dente”, “violência por violência”. Denunciando, para isso, a predominância do modelo punitivo incorporado ao sistema penal brasileiro, a fim de que se utilizem ações educativas, penas alternativas, e aplicação da justiça restaurativa.
Propõe-se, ainda, que se cultivem ações que visem à superação das causas e fatores da insegurança. A Igreja pede que se apóiem as políticas governamentais que valorizem os direitos humanos, e que os cristãos despertem-se para um agir solidário para com as vítimas da violência.
Como fora citado, crê-se que a insegurança é causada pela injustiça social. Portanto, far-se-á necessário um rompimento com as práticas de injustiça, e dever-se-á promover ações que libertem uma parte significativa do povo, que é refém das algemas do subemprego, desemprego estrutural, falta de alfabetização, e das condições insalubres.
Não há como negar a existência da violência, entretanto, vê-se uma negligência no combate a ela. A população refugia-se como pode. Casas estão sob vigilância eletrônica, escolas e outras instituições contam com segurança particular. Mas, as raízes do problema muitas vezes permanecem intocadas. A Igreja Católica, agindo em nome de Cristo quer acordar o povo para que se promova a libertação plena de todo o mal. Como o Cristo ensinou na oração do Pai-Nosso, deve-se pedir “livrai-nos do mal”.
Por conseguinte, nesse período quaresmal a oração católica está voltada para a situação da insegurança e injustiça social. As comunidades são incentivadas a rezar pelas vítimas, e pelos que promovem a violência. Pede-se ao Senhor que liberte o Brasil e todo o mundo de todos os males. Afinal, o santo padre Bento XVI recordou, em seu livro Jesus de Nazaré, que “o cristão do tempo da perseguição invoca o Senhor como o único poder que o pode salvar: salvai-nos, libertai-nos do mal. Mesmo que já não exista o Império Romano nem as suas ideologias, tudo isto está, no entanto, bastante presente! Também hoje aí estão, por um lado, as potências do mercado, da negociação com armas, drogas e seres humanos, que pesam sobre o mundo e envolvem a humanidade em violências, que são irresistíveis”.
Já o jejum dos fiéis tem como finalidade promover uma fraternidade para com aqueles que sofrem. Cumpre-se, assim, a orientação de sua santidade Bento XVI, dada em sua mensagem para a quaresma de 2009, ao referir-se que “o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: ‘Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?’ (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente.”
Seguindo essa linha, o costume das esmolas tão tradicional e tão caro à liturgia, é revertido em recursos para as instituições e ações que promovem uma cultura de paz. A CNBB fará no domingo de ramos a coleta nacional da solidariedade.
Enfim, os bispos através da Campanha da Fraternidade buscam questionar a sociedade, as políticas, e criar uma visão crítica nos católicos. Tornando-os capazes de “ver, julgar e agir”.

(*) Luis Hernandes é Seminarista da Companhia de Maria – Missionários Monfortinos.
luishernandes@pop.com.br

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