sexta-feira, 6 de março de 2009

À BEIRA DO CAOS

Desde algum tempo a pacata Senador La Rocque, tem se tornado palco da desordem e da violência. São espetáculos macabros estreados sem hora marcada, no cenário esdrúxulo de nossas ruas esburacadas, estreitas e escuras, assistidos por uma platéia impassível, pasmada pelo terror causado em cada ato encenado no teatro da vida real.
Quem não se lembra do assassinato horrendo, com pinceladas de satanismo, do jovem Isael no bairro da Nova Mucuíba, com órgãos decepados e o coração arrancado?
Quem não se lembra daquele senhor encontrado, no povoado de Cajá Branca, decapitado? Dos assaltos a comércios em plena luz do dia, com os ladrões empunhando armas e fugindo a pé, espalhando assombro entre os cidadãos?
Quem não se lembra da viúva do seu Cariri, lá do Cumaru, que teve a cabeça rachada por pauladas dadas pelas mãos de insensíveis indivíduos desumanos, que não hesitaram em trocar uma vida humana por meros trocados? Da invasão das casas de muitas famílias, que tem seus bens surrupiados por bandidos, que além do medo que provocam, ainda fazem prisioneiros os cidadãos em seus próprios lares? Até a casa paroquial já foi invadida duas vezes e é por que fica a menos de cinqüenta passos da Delegacia.
Quem dera tudo isso fosse uma obra de ficção, pois elas quase sempre terminam com a vitória do mocinho sobre o vilão. Mas infelizmente não é! Isso é a tragédia da realidade que nos é acometida pela insensatez, pela tibieza e abjeção de monstros disfarçados de homem. O que aconteceu com essas vítimas ontem, pode acontecer conosco hoje. Que situação! Que Lástima! E perguntamos: de quem poderia ser a culpa por tamanha insegurança? Da policia? Acredito sinceramente que não. A força policial presente em nosso município é quase que insignificante, são apenas quatro policiais para uma população de mais ou menos 20.000 habitantes, com uma única viatura em condições péssimas, que não permite a esses policiais cumprir suas obrigações com eficácia.
Olhando o roteiro do drama apresentado percebemos de imediato que não temos segurança. Porém, não é somente segurança que nós queremos, ela é apenas uma dimensão do que precisamos em Senador La Rocque.
Passamos por uma intensa campanha política nos meses finais do ano passado que, particularmente, foi uma prova da falta de respeito, da falta de cidadania e descumprimento da Lei.
Os palanques se tornaram verdadeiros ringues, onde agredir e denegrir eram as regras principais. Quanto mais se degladiavam aqueles que se tornariam nossos representantes, mais as turbas ovacionavam ao som dos fogos de artifícios e agitados aplausos. Em meio a toda essa barbárie desventurada, conseguimos ouvir, aqui e acolá, umas poucas propostas, aquelas mesmas de sempre: saúde, educação, segurança, emprego e infra-estrutura. São as mesmas promessas, e nós acabamos dando nosso voto de credibilidade. Pois, além da segurança, precisamos dessas outras dimensões, elas são as bases para o bem-estar de um povo.
Não quero desenhar um quadro de cada uma delas aqui, mas quero que você perceba que estamos longe de ver nossos direitos assegurados. Veja:
Temos uma única ambulância no município, que na maioria das vezes nunca está disponível. Temos um hospital que não funciona e um posto de saúde que não tem remédio. E de quem é a culpa?
Nossos jovens terminam o ensino médio aqui e depois perguntam se o Mercosul é uma empresa de São Paulo. Não quero generalizar a pobreza intelectual e cultural dos nossos jovens, nem desmerecê-los, longe de mim tal pretensão, mas é perceptível a fraqueza de linguagem e de leitura em muitos deles. E de quem é a culpa?
A maioria desses mesmos jovens está indo embora de nossa cidade em busca de emprego, porque aqui não surgem oportunidades. E de quem é culpa?
Nossa infra-estrutura é péssima, estamos ainda no tempo da fossa, isto é, para os que são mais abastados; a moita e a privada são a solução para os menos favorecidos. E de quem é a culpa?
Entendam que não quero pejorar a imagem de nossa cidade – cidade que aprendi a amar profundamente – muito pelo contrário, justamente porque a amo que não posso deixar de falar de suas necessidades.
Como autoridade eclesiástica, presente nesta porção da Igreja de Cristo, me sinto obrigado a questionar o poder público, de maneira pública, para que com pleno esforço venha suprir essas necessidades, promover a dignidade dos cidadãos larocquenses e nos tirar o mais rápido possível da beira do caos.

ORDEM E PROGRESSO JÁ!

Na paz de Cristo

Pe. José Samuel Nava

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